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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Das Embalagens ao Lixo*


O que você vê quando entra em uma dessas grandes lojas de cosméticos cheias de corredores e prateleiras lotados de potes, tubos, frascos? E o que vê quando entra em um hipermercado cheio de corredores, prateleiras, caixas, embalagens, potes, frascos, tubos?
Eu vejo lixo. Montanhas de lixo. E imagino que no prazo de, em média, 1 ano, tudo o que estou vendo se tornará lixo, amontoado nos lixões a céu aberto ou boiando em rios, mares, oceanos.
Se forem vendidas, se tornarão lixo assim que os consumidores descartarem as embalagens nas suas lixeiras. Se não forem vendidas, se tornarão lixo da mesma forma, pois tudo tem prazo de validade e, antes que o prazo de validade se esgote, tudo o que está vencendo será devolvido ao fornecedor, que jogará tudo no lixo.
E são milhares e milhares de lojas de cosméticos, supermercados, hipermercados, pontos diversos de venda espalhados pelos mais por pelos quatro cantos do nosso país e mundo.
Não é por menos que no meio do Oceano Pacífico bóia um continente de lixo destruindo a vida e contaminando tudo ao redor.
Alguém certamente vai pensar... Reciclagem!
Alto lá! Quanto disso tudo é realmente reciclado? Quanto disso é, de fato, reciclável, se se levar em conta a mescla de materiais utilizados nas embalagens inviabilizando sua reciclagem? E mais ainda: reciclar consome uma quantidade imensa de água e energia. Portanto, reciclar não é panacéia.
A coisa foi perdendo o controle de tal forma que cada um de nós se sente impotente diante da imensidão do problema. Muita gente ganha muito dinheiro com essa máquina de produzir lixo. Todo mundo finge que não vê (ou não vê mesmo... não sei o que é pior!) e a coisa toda vai crescendo numa velocidade estarrecedora. A pretexto de gerar emprego, a cadeia que vai desde a extração de cada uma das matérias primas que compõe cada um dos produtos e suas embalagens até os contratos milionários para coleta do lixo nas cidades, gera, na verdade, externalidades múltiplas que estão fora do alcance dos nossos inocentes olhos. Lembrando de apenas algumas, cito o lastro de degradação ambiental e social nos locais de extração (de petróleo, minérios, plantas e bichos), a poluição gerada pelas indústrias, a escravidão das pessoas que trabalham ao longo da cadeia (ou é sonho de criança de todos nós nos tornarmos máquinas que apertam parafusos “à La” Tempos Modernos?)... e, finalmente, as montanhas de lixo que poluem e enfeiam o mundo expondo essa doença social civilizatória que é a sociedade de consumo de massa.  
Alimentados por propagandas enganosas e embalagens luxuosas, nossas fantasias consumistas são insaciáveis. Mal compramos aquele xampu  da embalagem colorida e não vemos a hora que ele acabe para podermos experimentar aquele outro mais novo lançamento. Nas embalagens, os produtos se promovem de todas as formas, seja anunciando-se como “lançamento”, “novo”, “nova embalagem”... seja seduzindo o consumidor cativo mais conservador:  “desde 1950”, “tradição”, “há 30 anos...”.
O que há por trás de tudo isso? O que alimenta nossa sede implacável de consumo? Se a questão é geração de emprego, porque é que todos os processos estão sendo sistematicamente mecanizados e informatizados em detrimento da mão de obra humana? Por que será que todo o sistema de educação vem sendo sistematicamente conduzido a produzir mão-de-obra para o mercado de trabalho ao invés de pessoas aptas a desenvolver suas habilidades e dons a serviço da humanidade? Perguntas que me deixam tonta quando passo diante de uma dessas imensas lojas de cosméticos...

* Texto publicado originalmente na edição de Julho de 2012 do Jornal Deusa Viva, boletim da Teia de Thea.

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