Todo o conteúdo deste Blog é de minha autoria (fotos, textos, filmes), salvo menção expressa. A reprodução é permitida, desde que: a) não haja edição; b) sejam dados os devidos créditos e citada a fonte; e c) não seja feito uso comercial. Agradeço se me informarem.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Agrotóxicos




A questão do uso de agrotóxicos foi uma das minhas primeiras inquietações quando entrei no curso de agronomia, em Belém do Pará, em 1987. Nunca pude compreender a lógica do uso de venenos na agricultura. Sempre achei absurdo e desnecessário. Sempre me pareceu uma aberração jogar na natureza um produto que que tem como objetivo matar a vida ali existente. Eu nunca poderia ter receitado um agrotóxico uma única vez a um agricultor. Nasci de um pai ecologista. Talvez tenha sido influência dele. Meu pai, um visionário, já falava, quando eu era criança, da memória da água e dos perigos do amianto. Foi na sua estante que encontrei o livro do Lúcio Flávio Pinto sobre o projeto Jari, assim como o livro do Sebastião Pinheiro chamado "Tucuruí, o agente laranja em uma república de bananas", livros que fizeram parte da minha formação intelectual e militante.

Foi assim que, na minha primeira semana na universidade, quando entrou em minha sala de aula um moço da Federação dos Estudantes do Brasil falando sobre agricultura alternativa, feita sem o uso de agrotóxicos. Encontrei minha tribo. Isso fazia todo sentido para mim. Fui para o histórico terceiro EBAA (Encontro Brasileiro de Agricultura Alternativa) e entrei no movimento contra o uso de agrotóxicos para nunca mais sair. Fiz estágio com controle biológico. Estudei o funcionamento das florestas tropicais. E, finalmente, encontrei a Agrofloresta.
Passaram-se 24 anos e o mesmo moço, da boca de quem pela primeira vez ouvi falar de agricultura alternativa, me escreve uma mensagem na qual me pergunta se eu acho mesmo que é possível produzir alimentos para toda a humanidade sem o uso de insumos químicos e se eu acredito que a agricultura familiar sozinha pode dar conta dessa produção. Ele havia esquecido. Como muito... milhares... milhões que andam por aí pelos shoppings, pelas avenidas, pelos escritórios... milhões que também se esqueceram.

Vamos encarar a verdade. Não se trata do que virá, já é o agricultor familiar que coloca comida na mesa dos brasileiros. Os dados são oficiais. A agricultura familiar é responsável por no mínimo 10% do PIB agrícola e por colocar até 60% do que está no prato do brasileiro, ocupando algo por volta de ¼ da área agrícola do país. Nós não comemos soja ou cana-de-açúcar. Eu não como carne. Em 1 hectare de floresta de produção (agrofloresta) é possível colher mais de 9 toneladas de pupunha. E de soja? Quantos quilos você colhe? Um terço disso? Haja insumo... E carne? Quanto você consegue por ano em 1 hectare? Vi números na internet que giram em torno de 40 quilogramas por hectare por ano em sistemas de alta produtividade!!! Pois bem, na floresta de alimentos, além das 9 toneladas de pupunha (que, diferentemente da soja, é alimento da melhor qualidade nutricional), você vai colher mais umas 30 toneladas de mandioca, feijão, milho, abacate, manga, cupuaçu, café, acerola, goiaba, graviola e todas as frutas e castanhas que quiser.... e tudo isso sem um único grama de agrotóxico, como muitos agricultores e agricultoras estão mostrando em vários cantos do Brasil.

Há duas questões que considero muito relevantes nesse debate.

A primeira diz respeito à dieta. Teremos uma agricultura natural e diversificada quando abrirmos mão de nossa dieta à base de carne, trigo, laticínios, açúcar e comida sintética. Não é preciso eliminá-los totalmente, mas esses produtos não podem representar até 90% da nossa dieta como atualmente acontece. É claro que as indústrias da soja, da carne, da importação de trigo, da cana-de-açúcar ficarão bastante bravas e farão de tudo para nos convencer a não fazer isso, o que estão conseguindo com tanto sucesso que até achamos natural! Afinal, a quem interessa uma agricultura diversificada, de base familiar, agroecológica e sustentável? Quem vai ganhar dinheiro no dia em que 90% da dieta do brasileiro comum for composta por mandioca, cará, batata-doce, verduras, frutas e legumes orgânicos?

Tem mais... sabe quantas espécies de seres vivos existem em 1 hectare de soja, cana-de-açúcar ou milho convencional? Uma única. Porque todas as demais sucumbiram sob chuvas de agrotóxicos. E sabe quantas espécies de seres vivos podem ser encontradas em um hectare de floresta de alimentos: incontáveis, milhões, inumeráveis... isso sem falar do pulular de vida, do cheiro da floresta, da beleza, das cores, da sombra, da água pura e abundante e do carbono todo... ali... estocado e tornado vida...

Por tudo isso, convido-o visitar o site da Campanha contra o Uso de Agrotóxicos e pela Vida:

Participe!



Nenhum comentário:

Postar um comentário